quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Orval



Abbaye Notre-Dame d´Orval

“Goût d´Orval”

Uma trapista repleta de lendas e histórias muito interessantes! Além de ser a melhor cerveja que já tomei. 

Por esse motivo, ela merece um post exclusivo aqui no Panela.

Há mais de 900 anos, os monges Beneditinos viajaram da Calabria até a Bélgica, onde criaram, no estonteante vale Gaumy o seu monastério. Entretanto, eles não duraram muito e meio século depois, a ordem Cisterciana restabeleceu o monastério como Abbaye Notre Dame d´Orval (Abadia de Nossa Senhora Orval). 

Orval significa o Vale do Ouro.

O nome vem de uma lenda onde a condessa de Toscana, Matilda (será que a Pale Ale da Goose Island veio dela?) perdeu um anel dourado em uma lagoa próximo ao lugar onde se situava a abadia. Então ela ajoelhou na beira da lagoa e rezou (seguindo o velho ditado) para que seu anel voltasse a ela, prometendo que ela construiria um monastério ali, caso o desejo fosse realizado. Então, milagrosamente, uma truta saltou da água com o seu anel na boca. A princesa manteve sua promessa e construiu a Abadia de Nossa Senhora Orval. A truta ostentando o anel na boca, ainda é o rótulo da belíssima garrafa da cerveja Orval.


O problema foi que a condessa esqueceu-se de pedir proteção ao seu monastério. A Europa Medieval era um lugar muito violento. Com o tempo ela acabou sendo bombardeada e arruinada pelas guerras. No desfecho do Séc XVIII, Orval acabou saqueada e destruída.
Em 1926, a Ordem Trapista levantou um novo monastério em meio as ruínas da velha Orval. E claro, em 1931, construíram uma cervejaria para aliviar os problemas financeiros da reforma da abadia.

O diretor comercial da Orval, François de Harenne é descendente da Condessa Matilda. Sua família, por um tempo, era bem afortunada, mas, fazendo jus à promessa da Condessa, a família doou sua fortuna para reconstruir a Abadia Orval na década de 30. François, um homem monacal claramente orgulhoso de sua cerveja, aparentemente não demonstra nenhum arrependimento.

Tampinha
Diferentemente das outras cervejarias trapistas, a Orval produz uma única cerveja. Esta é muito famosa pelo o que os monges e entusiastas da cerveja referem-se como goût d´Orval. Goût literalmente significa sabor, ou paladar, mas uma melhor tradução poderia ser “essência” ou até mesmo “espírito”. Orval tem um sabor reverenciado não apenas na Bélgica como em todo o mundo, pois não há nada que seja parecido com ela.

Talvez isso se deva ao fato dela ser feita com uma mistura de diferentes cevadas européias, especialmente maltadas de acordo com a especificação do mestre-cervejeiro.  Depois de uma adição de açúcar especial, ela leva uma série de fermentações. A primeira é realizada por uma levedura ale normal. Já a segunda, consiste em uma mistura de dez diferentes cepas de fermento. Após esse estágio, lúpulos secos são finalmente adicionados e a cerveja é posta para descansar e evoluir pelas próximas nove semanas em uma cela com temperatura controlada. Então, voi lá, o goût d´Orval emerge.

Como todas as cervejas que são fermentadas na garrafa, a Orval também muda com o passar do tempo. Cada degustador tem o seu tempo preferido para abri-la e aproveitar melhor a sua bebida.

Orval:

·         Nome: Orval
·         País de Origem: Bélgica
·         Onde encontrar: Lojas e sites especializados
·         Prêmios: ?
·         Fermentação: Ale (alta temperatura)
·         Estilo no BJCP: 16E – Belgian Speciality Ale
·         Características: Forte, frutada, condimentada e complexa.
·         Ingredientes: Água,Malte, Lúpulo, açúcar e leveduras.
·         Teor Alcoólico: 6,2 %ABV
·         Temperatura Ideal: 12 a 14C
·         Harmonização: Peixes Oleosos e Gordos (porque não uma truta?)/ Molhos Cítricos/ Cogumelos
·         Envase Avaliado:  330ml (único existente)

Minha Avaliação:


                  A avaliação é para uma orval relativamente jovem, engarrafada em 29/12/2010.

A apresentação começa pela lindíssima garrafa e seu tímido e elegante rótulo. Na taça, mostra-se um alaranjado, lembrando o mais belo põr do sol, até mesmo marrom clarinho, polida, meio brilhante opaca, com um creme branco muito consistente, de formação espetacular e permanência longa. Trata-se de um dos líquidos mais belos que já contemplei. O aroma é complexo e maravilhoso. Tem um salgado agradável que eu nunca havia sentido antes em cerveja, um aroma cítrico de limão, notas herbais e florais, um pouco daquele couro/mofo que senti na gueuze. Leve adocicado e grãos, insinuando que o malte está ali, têm de tudo, condimentos também. Excepcional, muito aromática. Na boca ela continua com aquele leve pungente ácido/salgado, é sutilmente efervescente, apresenta um dulçor realçado por notas cítricas e herbais. No final, seco e forte, temos novamente o sabor de "fazenda" que remete a terra/madeira úmida ou couro. Também temos um forte amargor. A secura e a acidez perduram. Carbonatação é médio-alta, drinkability altíssima, pouco adstringente, complexa, daquelas que sentimos coisas novas a cada gole, é enigmática até na aparência! Saborosa e refrescante. Não senti o álcool e o corpo é leve-médio. Cerveja excepcional, só me trouxe sorrisos, a começar pela sua garrafa, depois no aroma e no sabor nem se fala. A experiência é inusitada e imperdível. Um dos melhores líquidos que já tomei na vida. Espetacular e único. Concordo plenamente com a expressão "GOÛT d´ORVAL". Ela tem que existir, pois não existe nada igual.

(já havia terminado a avaliação, e quando fui dar o último gole, senti um fenólico incrível no aroma, só para reforçar a tamanha complexidade dessa cerveja, sensacional!)

E fim de papo. Essa é mais uma cerveja que sem dúvida, todos os amantes de cerveja devem saborear.

Impressionante o que um pequeno frasco de vidro pode trazer consigo não é mesmo?
Um grande abraço e tomara que mais pessoas no Brasil sigam o exemplo do grande François!



Saúde!


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