Fermentação espontânea rolando dentro da barrica. |
Faaaala
Galera!! Beleza?
Demorei
para postar, mas segue a segunda parte dos “bichinho louco” que transforma
mosto em cervejas complexas e inexplicáveis.
Se você não
viu a primeira parte, da uma conferida clicando aqui, pois irá facilitar o entendimento
dessa.
Agora vamos
falar um pouco sobre cada micro-organismo que atua na produção de cervejas
selvagens.
ACETOBACTER
São responsáveis
pela produção do vinagre, oxidando etanol para acido acético. Ela pode destruir
cerveja e vinho produzindo uma quantia excessiva de acido acético ou seu éster
derivado, acetato de etilo, que pode resultar em uma bebida não consumível. Por ser um acido afiado, e azedo, ele é
agradável apenas em quantidade baixas a moderada nas cervejas selvagens. Acetobacter contribui muito para a parte
acida do perfil de sabor das Flanders Red, tem um espaço menor nas lambics e é
quase imperceptível nas Flanders Browns.
Acetobacter
requer oxigênio para converter álcool em acido acético. Normalmente
transportado pelo ar, ela irá infectar bebidas alcoólicas em qualquer lugar do
mundo.
Batendo um papo com Karl Verhaeghe, cervejeiro responsável pela Duchesse De Bourgogne, uma das principais Flanders Red Ale do mundo. |
BRETTANOMYCES
Por volta
de 1904, o diretor do laboratório da cervejaria Calbersg na Dinamarca, N.Hjelte
Claussen descobriu um micro-organismo que causava uma segunda fermentação nas stock ales inglesas. Claussen a nomeu Brettanomyces que literalmente significa
“British Brewing Industry Fungus.”
Extremamente
importante para as cervejas selvagens, contribuem para o caráter das lambics,
belgians flanders red, cervejas que desafiam estilo, incluindo variedades
americanas que fermentam apenas com brettanomyces. Produtores de vinho divergem
sobre as brettanomyces quanto a serem amigas ou inimigas. Alguns a consideram como parte importante do seu
vinho, outros a consideram um
organismo capaz de estragar a bebida.
Existem
hoje cinco cepas reconhecidas das Brettanomyces. O nome Dekkera é geralmente
usado indistintamente com Brettanomyces. São do mesmo gênero, Dekkera refere-se
ao tipo esporogênico de levedura, enquanto Brettanomyces não produz esporos. A importância da designação está na rapidez
da reprodução. Se cresce rápido, não é Dekkera.
A espécie mais importante pro cervejeiro
selvagem é Brettanomyces Bruxellensis, ela produz muito do caráter selvagem achado
nas lambics, incluindo o clássico “couro de cavalo” e “torta de cereja”. Bruxellensis refere-se a uma cepa
encontrada dentro de Bruxelas, Brettanomyces Lambicus para Cepas cultivadas na
Payotteland. Cada cepa tem características diferentes. Os cervejeiros
consideram que cada Brettanomyces é única a cada cervejaria. A complexidade das cervejas selvagens se
beneficia do uso de cepas múltiplas.
Brettanomyces são super atenuantes. Elas continuam
a consumir açucares, mesmo dextrina , que não é fermentado pela saccharomyces,
por muitos anos. A
superatenuação acontece pela habilidade da beta glucosidae (inerente nas
brettanomyces) quebrar amidos e dextrina e liberar glucose. A maioria dos açucares
contidos numa cerveja que tem brettanomyces pode ser fermentado, dado o tempo
correto e condição. Brettanomyces requer
uma concentração mínima de açúcar para sobreviver então jamais irá consumir
todo açúcar do mosto.
Brettanomyces
trabalham melhor em mostos com baixo PH com ou sem a presença de oxigênio,
diferente das saccaromyces, ela prefere condições aeróbicas. Ela irá cessar sua reprodução em um ph abaixo
de 3,4. Ela produz tanto acido lático quanto acético mas o ultimo apenas em
condições aeróbicas.
Um caráter
particular conhecido como de rato (mousy), ou de cavalo (horsy) pode aparecer
em cervejas e vinhos infectados com brettanomyces. Ela também exibe uma propensão estranha de formar uma película,
uma cobertura branca grossa e grumosa no
topo do líquido durante a fermentação. Essa película ajuda a proteger contra a
oxidação durante o longo processo de fermentação assim como contra mofos e
acetobactéria não desejáveis, portanto deve ser deixada intacta.
Experts
continuem a debater sobre como exatamente a
brettanomyces se torna estabilizada; ninguém está precisamente certo. Ela
comumente reside nas cascas de frutas. Os pomares de cereja que circundam Bruxelas serviram como um lar
para as brettanomyces até quando os pomares morreram no final do século vinte.
Comumente encontrada nos pomares de uvas
e no solo das vinícolas francesas. Brettanomyces
pode ser transportada pelo ar e há quem diga que a mosca-das-frutas pode
promover a propagação. Uma vez dentro da cervejarias, madeira exposta, o solo,
telhas, feixes e especialmente os barris fornecem um ambiente ideal para sua
propagação.
ENTEROBACTER
Enterobacter
produz os compostos de sabor tradicionalmente presentes em lambics novas, de um
ou dois meses. A maioria das espécies de enterobacteria fermentam glucose em
acido acético e lático e produzem acetato etílico e outros subprodutos como
sulfureto de dimetilo (dimethyl sulfide). Alguns irão fermentar lactose,
produzir dióxido de carbono e crescer na presença de oxigênio. Ela produz muitos dos aromas e sabores
comumente considerados não desejáveis nas lambics, incluindo vegetal,
esfumaçado (smoky), de mofo (moldy) e o sempre popular fralda de bebe. Numa
fermentação bem sucedida, esses subprodutos não serão tão evidentes, e alguns
produtores de lambic almejam evitar esta fase completamente.
Enterobacteria pode apresentar riscos para
humanos (almonela), mas nenhuma bactéria patogênica afeta as lambics ou
sobrevivem no produto final. Suscetível tanto a altos níveis de acidez quanto de álcool, ela sobrevive apenas por um
tempo relativamente curto na fermentação das lambics, deixando de reproduzir em
ph próximo de quatro.
Lactobacilos
apresenta maior papel na fermentação das Flanders e um papel menor nas Lambics.
Por ser uma anaeróbica facultativa, ela pode fermentar tanto na presença ou
ausência de oxigênio, mas prefere quando
este tem menor presença. Ela produz acido lático que é menos censurável do que
o acético devido ao seu toque especial na maioria das cervejas selvagens, um
toque azedo e picante. O Ester lactato etilo, catalisado do acido lático
contribui com sabores frutados. Algumas espécies de lactobacilo podem produzir
os conhecidos e indesejáveis ácidos isovalerico, isobutirico e também o
composto diacetil.
Lactobacilo
considera 37º C, a temperatura do intestino humano, ideal para crescimento. Com
bastante comida e calor, ela irá propagar rapidamente. Altos níveis de álcool e
acido lático podem matar lactobacilos. Elas deixaram de reproduzir num ph de
3.8.
LEVEDURAS OXIDATIVAS
Leveduras
do gênero Candida, Cryptococcus,
Hansenula, Kloeckera e Pichia pode produzir uma quantia grandiosa de acido
acético quando expostos a oxigênio. Eles irão flutuar para o topo da cerveja
junto com a brettanomyces (também uma levedura oxidativa), formando uma cadeia
similar de correntes. Considerados organismos que estragam os vinhos, muitas
espécies dessas leveduras crescem naturalmente nas cascas de frutas, como as
uvas. Dessa forma, essas leveduras aparecem nas lambics naturalmente, devido ao
uso de barris que fermentaram vinhos.
Kloeckera
apiculata é de particular interesse para as lambics. Ela ira fermentar glicose
mas não maltose, fornecer alguns ésteres florais e frutados altamente voláteis
e secretar proteases no mosto que podem quebrar proteínas. De forma geral,
essas leveduras têm pouco a contribuir para cerveja em questão de aroma e sabor
a não ser que o mosto seja exposto a oxigênio.
PEDIOCOCCUS
Responsável
pela maior parte da produção do acido lático nas lambics, Pediococcus
compartilha essa responsabilidade com Lactobacillus nas Flanders. Pediococcus
fermenta glicose em acido lático, mas diferente dos lactobacilos não produz
dióxido de carbono e ela também produz diacetil em leveis extremamente
perceptíveis. Mas qualquer diacetil produzida geralmente ira se quebrar durante
a fermentação de cervejas selvagens.
Pediococcus
não trabalha, ou fermenta de forma ruim na presença de oxigênio e cresce em
concentrações pequenas, mesmo nas lambics. Altas concentrações de pediococcus
podem produzir quantias tão absurdas de acido lático que pode tornar a cerveja
não palatável.
Pediococcus
cessa a reprodução num ph em torno de 3.4. Produtora agressiva de acido lático
com mais tolerância a lúpulo do que a maioria dos lactobacilos,
Pediococcus pode ser usada em qualquer
cerveja onde altos níveis de acido lático são desejáveis.
SACCHAROMYCES
Literalmente
“fungo do açúcar”, essa espécie de levedura usada para fermentar cervejas ainda
tem um papel na produção de cervejas selvagens. Saccharomyces cerevisiae ainda
fermenta a maioria dos açucares disponíveis no mosto, incluindo maltose,
glicose, e maltotriose, em álcool. Além da cervisiae, outro membro da espécie,
a Saccharomyces bayanus (algumas vezes chamado de Saccharomyces globusus), ocorre
naturalmente nas fermentações de lambics. Geralmente usada pelas vinícolas para
fazer espumantes, S.bayanus pode
tolerar concentrações de álcool de até 18%abv e irá recomeçar fermentações que
cessaram. Leveduras de xerez, também uma espécie de Saccharomyces apresenta
alto nível de tolerância ao álcool e similar a Brettanomyces pode sobreviver
nas paredes dos barris.
Vários
fatores influenciam o crescimento do micro-organismos acidificantes, incluindo
álcool, produção de ácido, ácidos dos lúpulos, oxigênio, a presença de amido no
mosto e temperatura. Diferentes micro-organismos produzem diferentes níveis de
acido e requerem diferentes períodos para crescimento ótimo.
Muito louco
sacar com quantas coisas tem de se preocupar um “lambiqueiro”. Não a toa, essas
cervejas demoram muito mais tempo para ficarem prontas e consequentemente
apresentam um custo mais elevado. Mas a experiência é sempre fantástica.
Grande Abraço
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