terça-feira, 16 de agosto de 2011

A História da Verdadeira Pilsner


Não Se Venda Por Menos.
Não jogue fora milênios de cultura, tradição e aprendizado.
Beba as verdadeiras PILSNERS!
O Panela lhe contará uma história. Então abra uma boa cerveja e leia o texto abaixo com calma e serenidade.

Foi com uma descoberta acidental dos Bávaros que se tornou possível brassar o estilo de cerveja que dominaria o mundo. O Pilsner.
Devido à necessidade de manter a cerveja boa durante todo o verão, quando o calor tornava impossível fazer cerveja, os Bávaros começaram a armazenar a cerveja em cavernas geladas no sopé dos Alpes.  Não era novidade que gelo preservava a comida. A novidade foi descobrir que a cerveja com fermentação em baixa temperatura e o armazenamento em um ambiente gelado era mais estável que qualquer outra. Mesmo quando guardada durante o calor do verão.
Encorajados por essa descoberta, os cervejeiros começaram a construir suas próprias cavernas ou adegas próximas a cervejaria. Então eles cortavam enormes blocos de gelo das lagoas e rios durante o inverno e os colocavam de forma profunda na caverna, mantendo-a resfriada durante todo o verão (imagine o trabalho que dava fazer isso naquela época, estamos falando do SÉCULO XV). Eles não apenas armazenavam a cerveja nesse local, agora a fermentavam também.

Essa prática tornou-se essencial quando Duke Albretch V da Bavária, preocupado com a queda da qualidade de cerveja, baniu a produção de cerveja durante temporadas de altas temperaturas. Com isso, a única maneira de os cidadãos venderem cerveja no verão seria brassando-a no inverno e armazenando-a.
O decreto foi rescindindo em 1850. Nesse tempo a cereja bávara mudou. Gradualmente as leveduras de alta fermentação foram desaparecendo, dando lugar para um tipo inteiramente novo. Essa nova levedura curtia o frio. A baixa temperatura não era um ambiente propício para as bactérias, que morriam, deixando a levedura executar o seu trabalho de forma tranqüila. Esse era o segredo da estabilidade da cerveja Bavariana.
O novo levedo também agia de forma diferente do anterior. Após o término da fermentação, ao invés de subir para a superfície do líquido ele se depositava no fundo do barril, deixando a cerveja relativamente clara. Quando a fermentação terminava, a cerveja se encontrava bastante crua ainda. Nesta hora entrava a paciência de armazená-la num ambiente frio por alguns meses. A paciência era recompensada, pois o resultado era uma cerveja deliciosa,clara e incomparavelmente suave e refrescante.
Carl von Linde, um engenheiro Alemão, apoiado pela cervejaria Spaten, construiu a primeira máquina de refrigeração artificial, tornado possível produzir cerveja lager (baixa temperatura) durante o ano todo.
Em alemão, “Lagerung” significa armazenamento. Cerveja ale pode ser bebida dentro de uma semana após pronta mais ou menos. Já as lagers requerem um tempo maior de fermentação para desenvolver os seus sabores e aromas.
Os Bávaros não faziam idéia que sua nova levedura especial mudaria a maneira de se fazer cerveja para sempre. Em 1842 ela foi levada (na verdade contrabandeada por um monge bávaro, historicamente, monges parecem nunca estar longe da cerveja) para a cidade de Pilsen na Bohemia, República Tcheca, para fermentar a nova cerveja dourada local, lançando um estilo que rapidamente varreu o mundo.

PILSNER, o estilo de cerveja mais popular do mundo, foi inventado na Bohemia, República Tcheca, aperfeiçoado na Alemanha e transformado numa cerveja de mercado e sem sabor na América. O que gerou uma séria de narizes torcidos e indiferenças de esnobes quando tentamos realçar a qualidade do estilo.
Mas aqui estamos falando da Pilsner genuína, da coisa verdadeira.
Josef Groll, mestre cervejeiro, aprendeu com os Ingleses o segredo para fazer maltes de cor mais pálida. Então ele aperfeiçoou a técnica para deixar os maltes ainda mais claros, atingindo um ponto onde a cerveja brassada com é verdadeiramente dourada na cor.
Apenas um ano antes a cervejaria Spaten chocou o povoado de Munich com sua  Marzen Oktoberfest Beer que apresentava uma coloração acobreada e mais clara. Naquele tempo todas as cervejas eram escuras. Aquela cerveja era uma sensação. Mas ao se depararem com a cerveja de Groll, as pessoas caíram de costas. Ela tinha um dourado polido, brilhante, algo jamais visto antes. A levedura de baixa temperatura, cumprindo sua promessa, depositou-se no fundo do barril deixando a cerveja clara e brilhante após seu longo descanso.
Josef Groll e sua cervejaria, hoje conhecida como Pilsner Urquell, levam o crédito pela primeira cerveja do estilo. Ele mudou até mesmo os utensílios usados para beber cerveja, os lindos copos e taças que usamos hoje não eram utilizados, já que o líquido não era tão bonito de se apreciar. Com a chegada da Pilsen as coisas mudaram, todos queria olhar e vislumbrar aquele líquido.
Verdadeiras Pilners são de um amarelo intendo a um dourado profundo, possui um acentuado e afiado amargor de lúpulo,aroma floral do lúpulo, um centro bem maltado que lembra pão e um final limpo e bem seco. Um formigamento do amargor e o sabor da cevada permanecem. Uma cerveja de grande estirpe.
Mesmo entre as verdadeiras Pilsners existem variações dependendo da região onde é feita. Porém, seja no norte ou sul da Alemanha ou em qualquer lugar da República Tcheca, a qualidade é imensurável.
Uma vez longe de sua terra natal, entretanto, a história fica bem triste. Com o intuito de alcançar sucesso de mercado e atingir uma produção massiva, adjuntos como milho, arroz e outros grãos baratos, fizeram seu caminho para entrar nas cervejas. A partir daí, temos uma queda depressiva e atingimos a American Pilsner. “Maravilhas” da tecnologia e controle de qualidade que aliado a um marketing de sucesso propiciou grandes cervejarias a conseguirem fazer uma cerveja com quase nenhum sabor.
Isso não é tarefa fácil. Levedo gosta de produzir sabores quando fermenta o mosto. Tecnologia digna de poder nuclear é necessário para prevenir que qualquer coisa prazerosa aconteça. Essas cervejas são feitas com o uso pesado dos insípidos arroz e milho. Lá se foram a história, a cultura,o trabalho, pesquisa e descoberta dos nossos ancestrais, além é claro, dos sabores maltados, aroma maravilhoso do lúpulo e suavidade alcançados com os meses de fermentação. No lugar disso temos uma cerveja aguada produzida rapidamente com nem metade do malte e virtualmente nenhum lúpulo. Algumas cervejarias realmente não usam lúpulos e sim recorrem para todos os tipos de compostos químicos. O resultado é uma água alcoólica, uma cerveja zumbi, um morto-vivo.
Muitas pessoas que dizem “eu não gosto de cerveja”, estão se referindo ao infeliz encontro com uma dessas coisas. Não se preocupe, é como comer queijo processado tirado de um tubo e decidir que não gosta de queijo.
Por um pouco mais de dinheiro você consegue a verdadeira Pilsner e curte os prazeres de um dos mais versáteis estilos de cerveja. É de dar água na boca, muita satisfação e incomparavelmente refrescante.
Não se venda por menos. Não Jogue fora todo o trabalho dos nossos antepassados. Não menospreze a cultura e a história por trás de tudo.
BEBA A VERDADEIRA PILSNER!

5 comentários:

  1. Parabéns caro confrade! Esperei muito por esse post e valeu a pena. Melhor post ate agora, informativo e um tapa na cara da sociedade botequeira que não sabe o que é cerveja de verdade. Pena nossas manifestações via posts, ou via conversas de botequim, nao atingirem os "patronos" da industria cervejeira, que nos oferecem esse mijo, que encontramos em escalas estratosfericas nos supermercados.

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  2. Mestre João, excelente texto. Parabéns mesmo. Sabemos o quanto de pesquisa é necessário para fazer um texto desses. Imagina o quanto foi preciso para fazer verdadeiras Pilsner.
    Viva a possibilidade de, hoje, podermos diferenciar Pilsner e PseudoPilsner.
    Um grande abraço.
    Monich

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  3. Parabéns pelo post, pesquisou pra cacete, hein? :)Só uma dúvida: de acordo com a legislação brasileira, a cerveja TEM que ter lúpulo, mesmo que em proporção ínfima, mas vc fala que algumas cervejerias chegam a nem usá-lo, como pode isso?

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  4. Post belissímo!
    Um tapa na cara desses caras que tomam ITAIPAVA nos UFC Fight Night da vida!

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  5. Muito obrigado confrades!

    Milu, foi exatamente isso o que eu quiz dizer com "virtualmente nenhum lúpulo". Usam apenas para dizer que está ali.

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