sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Harmonização Inesquecível



Paulaner Salvaltor com Sanduíche de Pernil

Uma harmonização despretensiosa que tornou-se um dos momentos mais prazerosos da minha vida.
Sobrou pernil do almoço de domingo, é lei fazer aqueles sandubas à lá Estadão. Não tem como errar, fatiar bem fino o pernil, dourar cebolas e pimentões  extras, regar os dois lados do pão com o molho do bicho, tostar o pão levemente, montar o sanduba e pronto. Você estará diante de uma das melhores invenções humanas. Aquele velho vinagrete pode também cair bem. Não tem jeito, sanduba é uma carta na manga.

Aí eu penso: Legal, o jantar de hoje tá garantido, é extremamente saboroso e rápido de fazer, então me soboa tempo para ler um livro, dar uma relaxada e depois preparo o sanduba. O livro em questão era o The Brew Master´s Table, do Garrett Oliver. Eis que me deparo comm uma passagem que diz o seguinte:


 “The name DOPPELBOCK tells you that the beer will be strong and dark, and it will have a slight sweet, toffeeish malt flavor balanced against moderate bitterness. THERE´S NOTHING BETTER WITH PORK.”

Tradução:

 O nome DOPPELBOCK nos diz que a cerveja será forte e escura, e que terá um sabor levemente adocicado de caramelo equilibrado por um amargor moderado. NÃO HÁ NADA QUE COMBINE MELHOR COM CARNE DE PORCO.

Abro o armário/adega e o que encontro, uma Salvator dando sopa. Não pensei duas vezes e a coloquei na geladeira. Essa cerveja é referência nesse estilo. Na realidade, referência é pouco, ela definiu o estilo. Um pouco de sua história: 

 A Bock tradicional vem do norte da Alemanha, já a Doppelbock pode ser considerada um estilo que começou em Munich. Munich significa “lugar dos monges”. A produção de cerveja nos mosteiros era muito comum na Europa, Trapistas, Franciscanos e Paulaners supostamente faziam cerveja para sustento e não para prazer. Explico: Os seguidores de São Francisco de Paula (Paulists) jejuavam duas vezes por ano. Durante os quarentas dias da quaresma que precede a Páscoa e durante as quatro semanas do Advento que precede o Natal, não lhes era permitido nenhuma comida. Então os monges brassavam uma cerveja especial de sustança mesmo, rica em nutrientes, para ser consumida durante os jejuns. Os monges a chamava de “Holy Father Beer”. Ela foi liberada em 1780 e devido a sua força e corpo as pessoas a chamaram de doppelbock ou Double bock. Quando Franz Zacherl adquiriu a cervejaria Paulaner no ínicio do SEC XIV, ele a nomeou SALVATOR (salvador).

“Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo.”

A questão toda é que ao morder o sanduba, eu tive uma explosão de sabores e texturas na boca, suculento, crocante das cebolas, maciez do pão, doce, salgado, por si só sensacional. Mas ao dar um gole na breja em seguida, eu senti o que aconteceu. Transformei o que seria apenas mais uma excelente refeição em algo inesquecível e primoroso. E olha que eu estava sozinho, infelizmente. A cerveja intensificou os sabores do alimento de forma majestosa, deixando tudo mais intenso e equilibrado, além de adicionar um leve frutado no final. O retro gosto da refeição é algo que jamais imaginei. Nunca senti tantos sabores juntos permanecerem por tanto tempo na boca após o gole. 
Espetáculo. Essa cerveja implora por uma carne de porco assada lentamente.

Obrigado ao mestre Garrett Oliver pela aula. Seu livro é leitura obrigatória pra quem se interessa no assunto.

Sáude!




Um comentário: